Para onde foram?

Lembro-me tantas vezes de me dizerem “aproveita bem o tempo que passa a correr!” quando os meus filhos eram bebés. E eu pensar “estou a aproveitar”. E estava mesmo.

A questão não tem tanto a ver com a velocidade do tempo, mas com o facto de ele passar mesmo. Eles vão crescendo mas temos aquele sentimento (esperança) inocente que vão ser sempre os mesmos independentemente do tamanho. Afinal, são os nossos. Só que não… não vão ser sempre os mesmos.

Em pequenos concordam connosco. O que lhes dizemos faz todo o sentido e sentimos a sua admiração por nós. Querem estar perto, absorver, abraçar as nossas ideias. Olhar para o mundo com os nossos olhos. Podemos abraçar e dar beijinho e sentimos um orgulho incrível quando lhes sai pela boca algo que sentimos que fomos nós que ensinámos. E as gargalhadas? Aquele riso espontâneo e alegre que gostaríamos de congelar no tempo…

Acontece que, felizmente, eles são seres independentes. Com o seu crescimento vêm novas ideias, novas opiniões de amigos e youtubers (sim, estamos nessa geração), novas experiências, novas lógicas, novas emoções. De repente passam a não partilhar tanto. Resolver um problema já não se trata de chorar e pedir ajuda à mãe… já não existem beijinhos milagrosos que curam tudo. Os abraços já são mais espaçados e adormecer no nosso colo está completamente fora de questão. E as gargalhadas? Parece que nada tem assim tanta piada! São mais raras… talvez as guardem para soltar com os amigos, em temas que nas suas mentes, obviamente, nenhum adulto iria entender.

Olhamos para eles com todo amor e agradecemos por realmente teremos aproveitado todos os momentos possíveis. E imaginamos que aqueles seres ingénuos e doces de alguma forma estejam ainda dentro deles! Se não… para onde foram?

Na adolescência existe uma necessidade de rasgar, de encontro com quem são realmente, de afastar aquilo que sentem que já não lhes serve. E ainda bem! Que tenham as bases onde voltar sempre que for necessário. Deixemos voar! E cair e levantar. Experimentar e ser quem querem ser.

Esta é uma nova aventura. A da adolescência. Que me traz tanto também. Tenho crescido com os meus filhos, porque para ser sincera também eu já não sou a mesma. Nenhum de nós é! Que esse crescimento possa ser em harmonia, suave e com respeito por cada personalidade.

Quanto ao passado, o que já foi… quem já fomos… restam-me as memórias, as histórias e o culminar de todas elas que é o presente. E a mensagem que não me sai da mente “aproveita bem todos os momentos”.

Deixe um comentário